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5 de outubro de 2007

Nena Borba - Infância-2007- Alemanha

Minha pesquisa está pautada na temática que envolve tanto o conceito de arquivo, quanto o de memória. Venho pesquisando já há algum tempo teóricos que se dedicam a esse tópico: Jacques Derrida, Jean-Luc Nancy, Georges Didi-Huberman, Gilles Deleuze entre outros. Com relação aos trabalhos que apresento nessa exposição posso dizer que surgiram das leituras, que fazem parte do meu processo artístico e também de escritura da minha tese de doutorando[1] onde trabalho com a teoria da imagem.
Desse modo, esses desenhos são uma sorte de retorno ao universo de aprendizagem -à escola primária- que é representado através da mescla: colagem, aquarela, giz de cera e escritura; no entanto, soma-se a esse exercício o desenho de pequenas e ingênuas flores que se proliferam minuciosa e repetitivamente emaranhando-se tomando, assim, conta do espaço e quase que apagando, encobrindo como um véu o trabalho realizado anteriormente. Para mim é nesse movimento de ocultar e apresentar que há maior possibilidade de leitura para esses desenhos. Por exemplo, podemos pensar essas imagens como uma reflexão sobre o fazer, a prática moderna, que encontramos referências nos papiers collés de Picasso e Braque, nos livros O perfeito cozinheiro deste mundo, realizado de 30 de maio de 1918 a 25 de agosto de 1919, e Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade, de 1927, ambos de Oswald de Andrade. O mesmo procedimento ainda se faz presente na arte contemporânea, em que artistas agrupam na obra plástica materiais não-artísticos -tecidos, papéis diversos, assim como, letras, fragmentos removidos de jornais, partituras musicais, entre outros. Esses elementos, na maioria das vezes, são empregados nas obras desses artistas de modo que se combinem ao conjunto, tal como, um quebra-cabeça, uma partitura, ou uma constelação.
Dessa maneira, proponho ao observador realizar a leitura desses desenhos a partir das mais diversas fontes de referências, pois, dependendo do seu universo de referenciais teóricos e visuais poderá atribuir outros valores. Essas imagens que foram ocultadas são, na maioria das vezes, fragmentos de pequenos livros que foram encontrados num dos passeios rotineiros que faço, quase que semanalmente, a sebos aqui na cidade de Florianópolis. Para mim, são imagens que ao serem deslocadas passam a compor outra ficção, já não são somente “vultos históricos”, por isso, esses desenhos me ajudam a refletir sobre a memória, e a questionar a instituição por exemplo. Assim, os 33 desenhos que compõem essa exposição surgirão desse momento de retorno às imagens da infância que se desdobram infinitamente num jogo de ir e vir de um momento a outro, construindo assim, essa série que fica entre o exercício manual e a reflexão.
[1] Bolsista CNPq-Brasil.

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